De nome um pouco complicado, mas fácil de se relacionar, a Síndrome de Burnout foi classificada este ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um estresse crônico do trabalho que não foi administrado com sucesso. Segundo dados e especialistas, o problema acomete grande parte dos brasileiros e pode afetar bastante outras áreas da vida das pessoas caso elas não procurem atendimento psicológico. De acordo com pesquisa da International Stress Management Association (IsmaBR), cerca de 32% dos mais de 100 milhões de trabalhadores brasileiros sofrem da síndrome. O problema funciona sobre três pilares: exaustão emocional, despersonalização e redução da realização profissional. Segundo a psicanalista Clarissa Salle de Carvalho, o sentimento de estar exausto no trabalho quando se tem Burnout configura um grande cansaço físico, cognitivo, psíquico e emocional. Já na despersonalização, ou cinismo, como a especialista também classifica, a pessoa acaba fingindo que continua conseguindo desempenhar bem as funções na empresa como uma forma de se desconectar do real estresse do dia a dia. Já com a redução da realização profissional, a pessoa acaba tendo uma sensação de incompetência generalizada, onde ela duvida constantemente de sua capacidade.
Para a psicanalista, pode ser difícil as pessoas saberem diferenciar se estão passando por um momento de maior estresse no trabalho ou se o Burnout é uma realidade. "O sujeito quando ele está sofrendo da síndrome, existe uma desconexão consigo e com o nível de estresse que é possível suportar. Ele vai se submetendo cada vez mais a situações de descuido em prol do serviço", destaca. "O trabalho é estressante, mas quando essa sensação de estresse é algo que vai se repetindo e vai fazendo com que cada vez mais esses sintomas de desconexão e incompetência vão se agravando, é um sinal de alerta", esclarece. Para Carvalho, existem tipos de trabalho mais suscetíveis a fazer com que as pessoas tenham Burnout. Isso acontece principalmente com profissões que lidam diretamente no atendimento ao público, como cuidadores, médicos, enfermeiros. Professores também podem ter mais chances de desenvolver a complicação. Na área da saúde, fatores como uma carga horária excessiva, dificuldade de poder dar conta dos cuidados básicos de saúde, como sono e alimentação, podem impulsionar a possibilidade de se desenvolver o problema.
Fator financeiro pesa na decisão
A especialista também destaca que a situação financeira é fator determinante para que as pessoas permaneçam em trabalhos que se sentem infelizes. Se de um lado há o estresse crônico no serviço, por outro, o emprego é o único meio dos indivíduos muitas das vezes se sustentarem, tornando a equação bem difícil. Com o tempo, as formas de se trabalhar foram utilizando da tecnologia para se aprimorarem. Se antes a comunicação dos funcionários era mais limitada, hoje existem diversas redes sociais e aplicativos que facilitam a troca de mensagens. Mas, há também o ônus: os apps podem tornar mais difícil a desconexão com o ambiente da empresa, e a sensação de estar 24 horas por dia trabalhando pode surgir. "A hiperconectividade acaba fazendo com que, a não ser que o sujeito escolha se desconectar e deixar o celular, acabe ocorrendo uma convocatória para entrar de novo no trabalho", diz a psicanalista.
Pandemia piora a vida privada
Em meio à pandemia do novo coronavírus, muitas empresas e serviços acabaram migrando para o home office. Por um lado, podem existir facilidades, como a não necessidade de pegar transporte público e uma flexibilização maior de horários. Contudo, de acordo com Clarissa Carvalho, o serviço feito à distância também pode afetar negativamente a vida das pessoas por acabar não ficando bem definido qual o espaço para trabalhar e ter a vida privada. Para a psicanalista, é crucial que uma pessoa que sente que está com a síndrome de Burnout, procure assistência psicológica especializada. "A pessoa precisa buscar um espaço de tratamento para poder se pensar e entender o que será que está fazendo com que ela se submeta a situações de descuido consigo", enfatiza. "Quem está com a síndrome, está completamente esgotado emocionalmente e isso pode vir a se agravar em quadros mais severos, como uma depressão", alerta. O atendimento psicológico especializado tem sofrido cada vez menos do estereótipo de que só é necessário para casos extremos, conforme a psicanalista Clarissa Salle de Carvalho.
Fonte: cwaclipping.net
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